domingo, 9 de outubro de 2011

Carta das Profundezas- IV

Caro Aprendiz Uxe.
A carta imatura que você me enviou acerca das orações que seu paciente tem feito em favor da esposa dele me levou a crer que você, de fato, não sabe coisa alguma sobre esta arma contundente que os cristãos possuem. Você poderia ter nos poupado dos comentários que fez sobre os meus ‘conselhos um tanto infelizes a respeito da oração’. Isto não é o tipo de coisa que um aprendiz deva escrever para o seu mentor! Chego a pensar em abandoná-lo de vez... talvez você tenha mesmo é que aprender com os seus próprios erros!
Mas, de qualquer forma, vamos agora nos concentrar nesta arma irritante que o seu paciente está usando. Na verdade, há muitas maneiras de fazer com que ele ore mas não obtenha resultados. Por exemplo, faça-o se lembrar das orações repetitivas que ele aprendeu a fazer quando era criança. Esse tipo de oração pode ser cheia de palavras e, mesmo assim, não ter significado algum para quem se utiliza dela – o que nos garante uma enorme vantagem. Novos convertidos, como é o caso do seu paciente, costumam pensar que quanto mais falarem, mais rapidamente serão atendidos. Isso só nos beneficia, pois ele estará tão preocupado em falar muito que acabará repetindo as mesmas palavras muitas e muitas vezes, e assim a sua oração passará a ser automática.
Contudo, pode ser que ele seja persuadido a orar de forma espontânea e sincera, e é exatamente isso que nós devemos evitar. Se ele começar a orar assim, as suas orações se tornarão dolorosas demais tanto para você como para os seus planos. Então, mexa-se! Faça-o lembrar das orações que fazia quando era criança. Certa vez, um poeta chamado Samuel Coleridge escreveu que não costumava orar ‘com movimentos silenciosos dos lábios e de joelhos dobrados’, mas que apenas ‘recobrava o seu espírito de amor’ e se satisfazia com uma ‘súplica superficial’. É exatamente esse tipo de oração que nós queremos que seja feita; e, uma vez que ela se assemelha às orações silenciosas praticadas por aqueles que servem ao Inimigo, é até melhor mesmo que ele insista em fazer orações espontâneas, contanto que sejam superficiais.
Se isso falhar, há ainda outra tática que você pode usar. Quando o seu paciente disser que está orando para alcançar o perdão, faça-o buscar a sensação de que está perdoado. Quando ele estiver orando para obter coragem, faça-o buscar a sensação de que é um valente. Em outras palavras, ensine-o a estimar o valor de cada oração mediante as emoções que ele sentir. Fazendo assim, o seu paciente passará a depender dos seus sentimentos para poder crer que suas orações foram atendidas – e todos nós sabemos exatamente o que o Inimigo pensa a respeito de crer e orar!
O Inimigo não ficará indiferente às suas investidas; por isso, fique atento. Uma outra estratégia que você pode usar é se aproveitar do fato de que esses vermes insignificantes pensam que precisam imaginar o rosto de alguém no momento da oração. É aí que você entra. Se você conseguir que ele associe o Inimigo àquelas imagens que espalhamos com êxito por todo o mundo, as de como era o Seu semblante na cruz, será perfeito! Ele acabará orando à uma imagem, o que é, na verdade, uma oração vã. E mais: ele também estará pecando!
Atenciosamente,
Apolion
Chefe de Legião
(baseado no livro 'Screwtape Letters' por C.S. Lewis)

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