quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Não era para estar vivo


História impactante de norte-americano ex-viciado e integrante de perigosa gangue vira livro e é referência em palestras nos Estados Unidos.


Damien Jackson tem apenas 30 anos de idade, mas o que já vivenciou dá no mínimo enredo para um filme. Sim, “Deveria estar morto” (título do livro de Damien) é o que se pensa depois de ler sobre sua trajetória.
Sucesso nos Estados Unidos (EUA) e lançada este mês durante a 22ª Bienal Internacional do Livro, em São Paulo, a obra já foi editada em inglês, francês, português e está sendo traduzida para o espanhol.
Viciado, traficante, cruel e frio são adjetivos pejorativos e impactantes que ele usa para definir seu comportamento na adolescência. O trabalho que ele vem desenvolvendo através do Youth Power Groupem escolas, ruas e guetos no enfrentamento às drogas tem chamado a atenção de especialistas nos EUA; ele inclusive recebeu moções honrosas e elogios pelas palestras que realiza em escolas dando seu depoimento de vida e alertando sobre os perigos desse mal que assola a juventude.
Em visita ao Brasil, Damien esteve com a agenda cheia: participou de vários eventos, fez palestras e deu entrevistas. Domingo (19) esteve ao lado do bispo Edir Macedo em reunião em Santo Amaro, na capital paulista. “A história dele é magnífica, maravilhosa. Recordo que tive de tirá-lo de Atlanta porque logo que ele e o irmão se converteram, os bandidos queriam pegá-los; tivemos que removê-los. Ele fez parte da maior gangue dos Estados Unidos, mas Deus levanta do monturo o necessitado para fazê-lo assentado ao lado de príncipes, e hoje ele está assentado conosco, os príncipes de Deus”, destacou o bispo durante reunião no domingo (19).
Confira abaixo a entrevista concedida ao Portal Arca Universal e ao Jornal Folha Universal:
Repórter (R) - Sabemos que o vício atinge todas as classes sociais, mas os jovens de classe baixa, moradores de comunidades, estão mais expostos e suscetíveis ao ingresso nos vícios. Você não tinha este perfil.
Damien Jackson (DJ) – As circunstâncias e o péssimo exemplo e desestrutura familiar me levaram às drogas. Aos 4 anos, já enfrentava a hostilidade e negligência dos meus próprios pais. Com essa idade, provei uma bebida alcoólica do copo da minha mãe, dada por ela. Mais tarde, aos 8, traguei o primeiro cigarro de maconha, oferecido por um tio. Por mais absurdo que pareça, eu gostei e prossegui fazendo o que meus pais faziam. Minha mãe bebia, meu pai usava drogas. Aquele era o exemplo, a referência que eu tinha.

– Mas você não era repreendido por eles? Não havia limites?
DJ – Vivia numa família desestruturada, cada um por si. Movido pela curiosidade, não resisti, continuei provando e gostando; mas vou contar isso com mais detalhes adiante.
– Sua família era desestruturada, mas com alto poder aquisitivo, certo?
DJ  Pois é, as raízes desse mal estão em todas as classes sociais. Até os 7 anos, morei em uma casa nada simples. Uma bela residência de seis quartos, localizada em um bairro nobre, com vários carros na garagem, empregadas, governanta e direito a passeios de limusine nos finais de semana. Uma boa vida norte-americana que contribuía para disfarçar a infelicidade da minha família.

Mãe mafiosa e pai homossexual
R – Que ligação sua família tinha com a máfia?
DJ  Minha mãe fazia parte da poderosa máfia italiana e coordenava a venda de drogas em diversos pontos de Atlanta.
R – E o seu pai?
DJ  Era um pai ausente e pouco se importava com os filhos. Cresci rejeitado, meu pai nem sequer ficava em casa; mas quando estava, me batia sem motivo.
R – Mas por que tanta revolta dele em relação a você?
DJ  Era um homem problemático. Eu apanhava muito, levava surras dele, muitas vezes sem motivo.  Nossa situação piorou quando minha mãe precisou fugir por causa da perseguição da polícia. Deixamos a vida regalada para trás e passamos a viver em situação precária.

R – Da mansão para a pobreza. Como foi esse período? 
DJ  Foi um período terrível, porque minha mãe, que era compreensiva e carinhosa, tornou-se agressiva. Se as referências familiares já não eram boas, perderam-se com uma revelação surpreendente. Um dia, após humilhar muito a minha mãe, meu pai admitiu que era homossexual. Contou que já se relacionara com mais de 2 mil homens. “Também tenho HIV”, confessou meu pai, saindo de casa logo depois.
R – Foi nesse período que você enveredou nas drogas?
DJ  Após um período, minha mãe conseguiu se restabelecer e arranjou outro companheiro, que foi morar com ela. Ele não me aceitava e fez uma exigência: ou ele ou eu. E a minha mãe optou por ficar com ele. Fiquei desnorteado. Procurei meu pai para pedir ajuda e o que recebi foi desprezo, ele não quis saber de mim. Fui morar nas ruas e aí tudo começou.

R – A rua foi o seu passaporte para a liberdade e o fim dos maus-tratos. E aí?
DJ  Sim, ganhei a liberdade e parei de apanhar, mas nesse período me aprofundei nos vícios da maconha, crack, ecstasy e analgésicos. Rapidamente percebi que teria que assumir a personalidade que as ruas e o vício impõem. Daí para ingressar no crime foi um passo.
Ganhando respeito das gangues
R – Que artifícios você usou para conquistar espaço no crime? Era inexperiente, de classe média alta...
DJ  Tornei-me integrante de uma perigosa gangue que age em várias regiões dos Estados Unidos. Bem rápido tornei-me líder do grupo em Gwinett Dekalb, o bairro em que passei a morar. Os “Blood”, que significa “Sangue” em inglês, eram conhecidos pela violência. Arrombamentos, roubos, fraudes de cheques, aliciamento de mulheres para a prostituição, espancamento, estupros e mortes estavam entre as práticas da facção. Só não admitia que os membros de meu grupo estuprassem quem quer que fosse.
R – Mas foi logo aceito?
DJ  Conquistei meu espaço. Para sobreviver no crime, foi necessário demarcar o território, impor respeito aos criminosos e traficantes.

R – Não havia medo, insegurança?
DJ  Vivia um conflito, porque não me conformava com o fato de ter me transformado naquela pessoa fria e cruel; eu detestava aquela realidade. Pouco a pouco, minha vida virou um inferno. Fui preso várias vezes.  Era odiado pelos bandidos e pela polícia, tentava me proteger deles da forma que podia.
R – Não refletia que estava destruindo a sua vida?
DJ  Eu odiava a minha vida.  Um dia fui me esconder na floresta, num lugar secreto, que poucos da minha gangue sabiam onde ficava. Ali, me droguei, bebi. Fui ficando deprimido e os pensamentos vinham como flashes do meu passado, das coisas ruins que praticara, e uma convicção maldita de que não havia jeito, de que o melhor era acabar com a minha vida. Apontei a arma em direção à minha cabeça. Pensava em dar fim àquele sofrimento ali.  Mas um “amigo” chegou bem na hora e desisti.
R – Quando a sua “ficha” caiu?
DJ – A cada dia me sentia mais fraco de espírito, sem contar que jamais pensei que passaria dos 18 anos. Meu irmão, 3 anos mais velho que eu, também esteve lado a lado comigo nessa vida errada. Comecei a frequentar igrejas cristãs, mas era muito criticado, especialmente pelo modo de me vestir e o fato de viver o tempo todo drogado. Tinha muitas tatuagens.
R – Como foi recebido na Igreja Universal?
DJ  Quando entrei pela primeira vez na Igreja Universal de Atlanta, encontrei o que realmente procurava e aprendi a lutar com Deus e a usar a fé de maneira inteligente. Recordo que nem mesmo as roupas chamativas que usava (vermelhas, cor da gangue da qual era membro) provocaram estranheza nos pastores e obreiros. Ao contrário, me trataram com tanto carinho, que até hoje estou lá, e como pastor, transmitindo a Palavra de Deus.





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